Um motorista muito esforçado

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No passado dia 15 de Maio, às oito horas da manhã, embarquei num autocarro da Rodoviária do Oeste no Campo Grande, em Lisboa, com destino a Caldas da Rainha.
Solicitei o respectivo bilhete ao condutor, que me perguntou:
-É normal?
-Sim, é para sair na estação de camionagem das Caldas da Rainha?
-É normal?
Insistiu o condutor.
-Sim.
-São sete euros e noventa e cinco cêntimos.
Surpreendido, disse-lhe:
-Costumo pagar apenas seis euros e quarenta cêntimos.
Apontou-me o ecrã da máquina dos bilhetes onde, em algarismos luminosos, se podia ler o valor do bilhete.
Paguei e fui-me sentar.
Momentos depois levantei-me e fui junto do condutor para lhe dizer:
– Pois, seis euros e quarenta cêntimos é o valor do bilhete para a terceira idade.
Num sorriso aberto e pleno de felicidade pelo dever cumprido, o condutor retorquiu, alto e bom som:
– Perguntei-lhe por duas vezes se o bilhete era normal. Eu não sei a sua idade, o senhor é que sabe.
Não respondi. reconheço que fui incorrecto. Tinha o dever de agradecer o prestimosos esclarecimento prestado pelo condutor. Como o não fiz, agora sinto a obrigação de elogiar o sentido de eficiência e a subtileza, de funcionário tão esforçado, em abotoar uns míseros tostanitos a um cliente parolo.
Em tempos idos, quando estava no activo, funcionário em contacto com o público era avisado que, naquelas circunstâncias, reflectia a imagem da entidade patronal:
-O cliente tem sempre razão!
Claro… Agora os tempos são outros.
Ah! Segundo os registos, nasci no ano de 1938.
Qualquer criancinha que me olhe não hesita em classificar a minha faixa etária: velho!

José Luís Mateus Leal